sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Curriculum

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Prefácio livro clã-destino

Prefácio



           O livro Clã-destino do autor Marcos Freitas é composto de uma sucessão de recursos estilísticos que compreendem desvios morfológicos da sua linguagem para melhor representar suas poesias de forma diferenciada e surpreendente. Pode-se observar isso a partir do próprio título da obra: Clã-destino, dando-se o parecer de uma ambígua significação.
O vocábulo clã pode estar atrelado à junção de algo como poemas reunidos pela afinidade de uma família de sentimentos. Seria a complexidade do que é a poesia? Sim, a poesia sendo fêmea como o próprio autor menciona em Poesia: "Deus, obrigado, porque tudo vale / a fêmea poesia”. Seria então a junção de poemas, palavras, cores e formas dadas à língua portuguesa.
Poderia se tecer também a possibilidade de ser a poesia algo clandestina, estando ela em guardados preciosos da gaveta do quarto que passam a ser clandestinas em um ambiente. Escondidas e esquecidas à réstia da sombra da abertura dessa mesma gaveta. A poesia nesse sentido apresenta-se com um destino incerto ao ficar às escondidas, mas ao sair da surdina, está aberta a ser um clã de prosperidade.
Nessa ambigüidade de sentidos é que paira a poesia de Marcos Freitas, que em sua composição o livro conta com 102 poesias distribuídas em 4 partes. A primeira parte – Espelho é composta por 19 e elas estão envoltas por vocábulos com uso de recursos estilísticos e mudanças morfológicas tais como a poesia Vaga-lumen; A-corda / a corda / acorda. O uso dos trocadilhos vocabulares dá vazão a sentimentos de oposição entre o estar atado a alguma coisa e a atenção de acordar para algo. No caso da poesia Vaga-lumen, ela dá margens a impressões de estar-se vagueando em busca ou em torno da luz, e ao mesmo tempo sucumbindo-se pela luz.
Na verdade, a Parte I – Espelho faz-nos ver refletidos pela nuance de um espelho. Como que o autor queira mostrar-se, mas desta feita pela percepção visual a que o espelho produz. Dependendo da ótica e da posição pela qual o leitor observa a imagem pode ser invertida, retorcida, distorcida de sua significação.
A Parte II – Retratos antigos, composta por 42 poesias, consta como as lembranças mais antigas do autor estão afloradas. Como remexidas e revistas em um álbum de fotografias antigas. Apesar de antigas, essas lembranças retratam sentimentos adormecidos, velhos, mas mesclados ao saber dos novos e atuais.
Na Parte III – Vaga-lumen, há 16 poesias. Elas representam uma espécie de luz verde ao vaga-lume refletida através da poesia impressa sobre o papel branco. Essa transfiguração de cor, luz e sentimento traduz a busca constante não pela réstia da luz pela qual sobressai a poesia clã-destina, mas pela esperança com que o autor impera na poesia revestida de luz verde e branca.
A Parte IV – Clã-destino está composta por 25 poesias. Há uma duplicidade estilística novamente no sentido de grafar e pronunciar as palavras. Como exemplo disso temos Clã-destino: o que se escuta em pronunciar é clandestino, dando a idéia de algo feito furtivamente, na clandestinidade. A poesia feita às escondidas ou saindo-se sorrateiramente do que é o seu destino e da célula máster que é a poesia. Mostrando com isso que essa poesia tem alma feminina e que se faz de hoje e sempre de motivação, inspiração..., da clã-destinidade das palavras que sozinhas nada somam e nada são.


Angélica Sampaio*





* Graduada em Letras e Pós-graduanda em O Ensino de Literatura Brasileira pela UECE, é professora, escritora e poetisa. (O autor).